quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

Falta de mão-de-obra qualificada, o que fazer?

Deu hoje no Jornal Nacional: falta de mão de obra qualificada pode paralisar construção civil (não consegui achar a matéria na porcaria do site do Jornal Nacional, então vai essa aqui do Estadão de dezembro mesmo). Esse é um assunto que particularmente me interessa - gestão de talentos, não construção civil - porque é o que eu sempre fiz na AIESEC (e vou fazer na Noruega até o meio do ano que vem). O caso não é que faltam pessoas, todo mundo sabe que o mundo está superlotado, mas faltam pessoas com a qualificação técnica suficiente. Nesse caso, faltam pedreiros, carpinteiros, eletricistas, etc.

A falta de talentos é um problema conhecido por todo mundo da área de gestão de talentos há quase 10 anos (quando do lançamento do icônico relatório “War for Talent” da McKinsey, que relata a “guerra” das empresas em atrair e reter talentos necessários nos cargos de gestão), porém muito pouco tem sido feito pelas organizações para vencer esta “guerra”.

Eu fico imaginando que tipo de organização em franco crescimento, como é o caso das construtoras no Brasil, deixa faltar um insumo tão básico quanto o sujeito que faz a obra acontecer. É mais ou menos como abrir uma padaria, comprar os ingredientes e o forno, mas acabar esquecendo do padeiro.

E o que o pessoal do RH dessas empresas faz para contornar essa falta? Organiza um “recrutamento” na porta das obras da concorrência oferecendo um salário mais alto. A curto prazo isso pode ser visto como bem inteligente, mas sempre vai ter uma empresa disposta a fazer o mesmo com você, pagando mais por um funcionário, logo você irá perdê-lo novamente e estará com o mesmo problema - e vai ser ainda mais caro recontratar esse cara.

“Guerra por talentos”, definitivamente.

Em um país desenvolvido, onde todo mundo estuda, seria até compreensível que faltassem operários de construção civil, porém em um país como o Brasil, onde há milhões de desempregados, como pode haver falta de gente? Bem, esse povo está desempregado justamente porque não têm qualificação.

O que fazer então?

Se eu fosse gestor de talento de uma dessas construtoras, eu pensaria em dois grandes objetivos:

1) manter as pessoas que já trabalham na minha organização;
2) qualificar pessoas para que se enquadrem no perfil que está faltando.

O ponto 1 eu não vou discutir aqui, mas tem uma série de coisas que fazem alguém ficar numa empresa (e não é o dinheiro, ainda que a falta dele com certeza prejudique). Mas o ponto 2 é onde quero expor algumas idéias que não sei nem se são legais, mas fica como idéias para o pessoal do RH dessas construtoras:

- Pagar salários para as pessoas fazerem o curso técnico necessário - tipo assim, pega o “Zé” sem qualificação, coloca no curso apropriado para o que se precisa e se firma um contato de sei lá quanto tempo de exclusividade.

- Parceria com o governo para financiar qualificação - Uma variação do item acima, algo como “Dr. Governo, me dá uma grana pra financiar esses cursos técnicos aqui que eu garanto emprego pra esse povo. Eu tenho mão de obra, o povo tem emprego e você tem voto. Win-win-win”. Se duvidar dá até pra empregar uns semi-abertos na parada.

- Fazer recrutamento dentro dos cursos técnicos - a montanha indo até Maomé.

- Ter meu próprio curso de especialização (ou, no caso de terceirização, parceria com um) - serve não só pra qualificar mais gente, mas também pra ganhar dinheiro (caso seja um negócio próprio) e também para “reciclar” meus funcionários atuais por um preço mais módico. Se você for realmente a fundo na coisa, pode abrir uma espécie de ONG da empresa para qualificar esse tipo de mão-de-obra em comunidades carentes. A comunidade ganha, a empresa ganha.

- Headhunting low level - a frase bonita em inglês significa na prática: pagar aos seus peões de obra para que chamem amigos ou parentes qualificados. Cada indicação que a empresa contratar e o sujeito ficar mais de 6 meses, quem indicou ganha uma grana extra (quem não quer ganhar dinheiro só pra dizer que “aquele cara” é bom?).

- Mentorship - Dá pra ir mais longe ainda no item anterior, caso a empresa contrate “semi-qualificados” em que o funcionário indicador ganharia uma graninha pra ser o “mentor” do “semi-qualificado” por um tempo (ou seja, ensinar na prática os macetes da profissão para um sujeito não tão qualificado). Dá pra criar até uma remuneração extra pros melhores professores (ou seja, aqueles que mais trazem novos funcionários e que realmente ficam depois do termo probatório).

Essas são só algumas idéias, tenho certeza que nem são as melhores ou mais realistas, mas é um começo. A pergunta fatal é: o que diabos acontece com esses gestores de talento que não fazem nada disso? Seria miopia do setor de recursos humanos? Talvez da alta cúpula da empresa? Ou apenas falta de planejamento de longo prazo? Quem sabe até o pessoal da gestão de talentos não veja como sua responsabilidade cuidar disso?

Não sei, não entendo nada de construção civil, mas me parece que se nada dor feito em relação a “guerra por talentos”, todo mundo vai sair como perdedor, menos os funcionários qualificados que tendem a ganhar uma grana extra graças a eterna lei da oferta e da procura.

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Definindo meu norte

Após 1 postulação, 1 vídeo e 2 entrevistas, no último domingo fui informado por skype que havia sido selecionado para trabalhar na Noruega, mais precisamente como Diretor de Gestão de Talentos da AIESEC na Noruega! Estava sozinho em casa, o que não me impediu de gritar por aí, saltar e começar a ligar e mandar mensagem pra todo mundo.

Tenho que estar lá no dia 15 de junho deste ano e fico até o ano seguinte, mais precisamente 30 de julho de 2009. O que significa que “pularei” um inverno na minha vida, porém vou conhecer o inverno mais frio que já tive notícia.

Eu vou pra Oslo, a capital do Reino da Noruega (sim, é uma monarquia constitucional parlamentarista), que fica mais ao sul (ainda bem). Eu vou ganhar cerca de 8.500,00 coroas norueguesas (na real é 10.500,00, mas aí é sem contar os impostos), mas não se impressione com o número, porque isso significa cerca de R$ 2800,00 (só que na Noruega o custo de vida seja bem mais alto do que aqui, na real, segundo o Wikipedia é 25% mais alto que nos States).

Mas o que eu vou fazer lá? Bem, eu vou ser o Diretor Nacional de Gestão de Talentos, o que significa que eu vou liderar a estratégia para atrair, selecionar, reter e desenvolver talentos em toda a AIESEC Noruega. Como eles têm problemas de retenção de pessoas (a galera é selecionada e logo sai da AIESEC, diminuindo os resultados da organização que precisa ficar treinando todo mundo de novo) e a presidente eleita disse que gestão de talentos vai ser um dos focos do ano que vem, tenho certeza que vai ser um prato cheio essa minha nova experiência.

Não vejo a hora de botar a mão na massa!

Eis o resto da galera do comitê nacional que vai ser o meu time:

Sonam Arora
Cargo: Presidente
Nacionalidade: Indiana
Idade: 21


Sveinung Årseth
Cargo: Diretor de Projetos
Nacionalidade: Norueguês
Idade: 23

Ida Linn Måløy
Cargo: Diretora de Relações Externas e Comunicação
Nacionalidade: Norueguesa
Idade: 22

Camilla Gullberg
Cargo: Diretora de Relações Corporativas
Nacionalidade: Norueguesa
Idade: 22

E eu:
Cargo: Diretor de Gestão de Talentos
Nacionalidade: Brasileiro
Idade: 25 (26 dia 21 de janeiro agora, putz!)

E vai ter mais um(a) que será Diretor(a) de Intercâmbio, as postulações serão abertas para um 2º round, já que ninguém foi eleito pra essa posição.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Próximos passos (fluxo de pensamento sem muito sentido ou revisão)

Escrever me ajuda a pensar. Eis o motivo desde post.

Depois de perder a eleição, tenho pensado em como vai ser o próximo passo. Pra dizer bem a verdade, está tudo bastante incerto, mas eu estou calmo, o que é algo de se admirar, porque eu sou uma pessoa que geralmente não lida 100% bem com incertezas. Acho que estou aprendendo a ser mais flexível, quem sabe.

Certamente quero ser diretor da AIESEC em algum país, porque sei que posso (e quero) impactar a organização em um nível maior, ajudando assim a mais pessoas a descobrirem e desenvolverem seu próprio potencial que, talvez, pudesse nunca ser descoberto se não entrassem para a AIESEC (experiência própria). Porém, isso é um processo cheio de pedras onde nada é certo, já que posso ou não ser eleito. Pra piorar, existem AIESECs mais profissionais que outras - e eu não sei o que é melhor pra mim, estar entre as melhores ou entre as não tão boas. Estar entre as melhores é certamente uma grande chance de progredir, de ter pessoas talentosas ao meu lado e assim por diante. Porém estar entre as não tão boas pode abrir uma possibilidade imensa de a) mudar as coisas e impactar de forma absurda aquele país ou b) se frustrar pra caralho por não conseguir fazer nada.

Em geral as AIESECs mais fortes são mais difíceis de entrar, porém o Brasil é uma dessas AIESECs fortes e eu sou bastante conhecido por aqui. Porém outro ponto que me cutuca é o lado pessoal da coisa. A Anna provavelmente voltará pra Europa e seria bem mais simples pra nós se estivéssemos ao menos no mesmo continente. Eu entrei na AIESEC porque queria conhecer o mundo, acabei ficando no Brasil por escolha própria. Será que quero viver 1 ano em São Paulo e ter uma grande experiência profissional, porém mais uma vez deixar de lado o pessoal? Eu ando muito mais equilibrado, antes era só trabalho trabalho trabalho, mas há algum tempo comecei a balancear as coisas muito melhor. Eu ainda sacrifico-me pessoalmente pelo trabalho (e espero que os outros façam o mesmo), mas acho que estou mudando. Talvez seja a idade, talvez apenas auto-conhecimento do que eu preciso pra ser feliz. O caso é que além de tudo São Paulo é uma cidade horrível. Entre São Paulo e Praga, eu ficaria com Praga.

Por enquanto eu já me candidatei para a Noruega e Reino Unido. Penso em me candidatar também para a Bélgica, República Tcheca e, quem sabe, Brasil e Eslováquia. Todas essas AIESECs são bem diversas em resultados, tamanho, estrutura, etc. No fundo, eu ficaria feliz por algumas coisas e frustrado por outros em todas elas. Porém, qual será a que pode me trazer mais benefícios e menos malefícios?

Vou dar uma de Steve Jobs agora: vou pra frente a moda louco, depois eu conecto os pontos e vejo no que vai dar. Segura coração!