Deixe-me lhe contar uma história da minha infância. Essa história é para ilustrar meu ponto, mas é 100% verdadeira:
quanto eu tinha lá meus 10 anos ou algo em torno disso, um grande fenômeno acontecia nas vizinhanças de toda cidade, locadoras de jogos que também funcionavam como fliperamas. Se você é um pouco mais velho ou ligeiramente mais novo, não sabe do que eu estou falando, então eis uma rápida explicação: essas locadoras de jogos funcionavam como nossas locadoras comuns de DVD, só que alugavam jogos para videogame (fitas, no caso). Porém, muitas não só alugavam os jogos, mas tinham videogames instalados para se alugar por hora, de modo que se você não tivesse o videogame, também podia curtir a coisa toda. Àquela época esse troço suplantou os fliperamos com diversas vantagens, mas a principal dela é que mesmo que você fosse muito ruim, só sairia dali quando acabasse seu tempo.
Eu tinha um desses videogames intermediários (algo como hoje é o PlayStation, o primeirão) e a locadora do meu bairro estava fazendo uma promoção que o vencedor levaria um videogame de última geração (algo como o PlayStation 3). Como minha família não tinha lá muitos recursos, depositei minha fé no concurso. A coisa toda era simples, a cada hora que você jogava na locadora, ganhava um cupom, botava na urna e concorria. Até aí ótimo. Falei da promoção para minha mãe e minha vó. Esta última, ligada numa dessas filosofias de vida orientais que diz que “pensamento cria”, me disse que se eu pensasse positivo, eu ganharia o videogame. Como é, se eu acreditar que vou ganhar eu vou ganhar?
Aquilo não me parecia tão ruim.
Acreditei que ganharia. Todo dia afirmava que iria ganhar. Estava no papo. O videogame seria meu, não restava dúvidas. Obviamente jogava minha uma horinha pra meter mais cupons e reforçar a corrente positiva. Eu estava tão confiante que ia ganhar, tinha tanta certeza, que no dia do sorteio levei uma mochila vazia nas costas para carregar o videogame numa boa. Papeis para o ar, o dono da loja pega um deles na mão. Ele lê o resultado.
Não ganhei.
Como? Eu tinha feito tudo certo, pensamento positivo e tudo.
Pois é, não ganhei.
Portanto, leitores do bombado “O Segredo”, livro que não li, mas sei que fala do poder “miraculoso” do pensamento positivo, cuidado quando acreditarem que pensamento positivo por si só pode resolver tudo. A mente é muito poderosa, mas um soco no queixo também o é.
Agora uma outra história, que fala como ser positivo pode ser a solução:
Estava eu na transição da diretoria da AIESEC Porto Alegre. Eu era o mais cru do bando que havia sido eleito para liderar a organização no ano de 2006 (aliás, o melhor ano da minha vida, ainda falarei sobre isso aqui), nunca tinha trabalhado de fato com gestão de talentos, mas estava lá, na cara e na coragem para ser o Vice-Presidente de Gestão de Talentos. A diretoria antiga nos propor fazer uma das partes da transição na praia - e lá fomos nós para o “belo” litoral gaúcho. Em um momento, precisamente no almoço, eles nos propuseram um joguinho, uma dinâmica boba, muito conhecida na AIESEC, que é assim:
uma pessoa escreve em etiquetas adesivas algum tipo de instrução, por exemplo “grite comigo”, “me peça opiniões”, “discorde de mim”, “me peça ajuda”, etc etc etc. Aí essas etiquetas são coladas nas testas da pessoa, sem que essas pessoas vejam o que está escrito em sua etiqueta. Aí todo mundo age com as outras pessoas de acordo com o que está escrito na testa dessa pessoa.
É bobo, eu sei, mas é divertido.
Então começamos a interação, notei que nunca ninguém me respondia, era como se eu não estivesse na sala. Demorou bem pouco para eu descobrir que na minha testa deveria estar escrito “me ignore”. Negativista e focado no problema que era então, apenas me calei e não interagi mais, pois sabia que não seria respondido. Quando me levantei para pegar mais comida, ao voltar ao meu lugar havia alguém sentado nele. Fui almoçar sozinho, meio entristecido pelo meu papel limitador.
Hoje, muito mais positivo e focado na solução, dou risada da minha patetice e da minha falha em enxergar uma oportunidade clara por só pensar que eu tinha um problema. Quem nunca pensou em ser invisível para aprontar por aí? Imagine o poder que eu tinha nas minhas mãos, eu seria ignorado fazendo QUALQUER coisa, ou seja, eu poderia passar a mão na bunda de alguém, tirar as calças, dançar, fazer cócegas - e eu nem precisaria me levantar para pegar comida, bastaria pegar no prato de alguém que estivesse do meu lado.
Qual a diferença entre as duas histórias? A primeira eu apenas pensei positivo e esperei que o sagrado deus do pensamento positivo me ouvisse, na outra (se eu tivesse feito algo) eu teria visto uma oportunidade positiva em uma situação em que a maioria acharia negativa e tomaria uma ação para aproveitar essa oportunidade.
Então, meus amigos leitores do “O Segredo” (e minha vó também), eis o meu desabafo:
- Pense positivo, mas acima de tudo aja positivo. Aproveitar as oportunidades que ninguém vê, esse é o segredo do pensamento positivo, não há nenhuma mística nisso.
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