sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Eu não me abstive

Resultados imprevisíveis para a eleição para presidente da AIESEC no Brasil (MCP): nunca tivemos tantos candidatos (três) e nunca tivemos esse resultado: nenhum dos candidatos eleitos, graças a abstenção em massa dos comitês locais na hora de votar (11 abstenções, 2 votos em mim, 2 votos na Mari e 2 votos para o Túlio). Posso dizer que fiquei um pouco entristecido. Não por não ter sido eleito, porque afinal eu entrei preparado para ganhar ou pra perder, mas por ninguém ter sido eleito.

É meio duro perder pra ninguém.

Vejo esse resultado como uma mensagem clara de que nenhum de nós 3 conseguiu convencer os comitês de que estávamos preparados e éramos as pessoas certas para liderar a organização nos anos de 2008 e 2009. Digo que nenhum “conseguiu”, dando atenção especial a essa palavra, porque acredito sim que eu estava preparado, mesmo depois de todos os feedbacks que recebi do porque não consegui o voto das pessoas.

Ou seja, concordo que não me apresentei bem, não encantei as pessoas, não atendi suas expectativas, porém discordo do resultado. Foi sem dúvida um grande aprendizado, até pelos feedbacks que recebi. Os mais recorrentes que recebi foram esses:

- Simplificação em excesso - eu parecia ver tudo de uma forma bem simplista, quase que prosaica dos problemas da AIESEC no Brasil, passando a idéia de que resolvê-los era fácil (o que não é de nenhuma forma verdadeiro).

- Arrogância - Até por eu dizer que as coisas eram simples, parecia um pouco arrogante da minha parte, como se ninguém tivesse conseguido fazer o que eu tinha como visão para a AIESEC no Brasil por pura burrice. Não ajudava também minha expressão corporal na hora de responder às perguntas, que para a grande parte da platéia soou como arrogante, quando na verdade eu gostaria apenas de passar confiança.

- Falta de praticidade, o popular “como vai fazer isso? - apesar de eu ter uma direção estratégica bem clara para a organização, eu não mostrei a maneira que eu ia conseguir fazer isso. Faltou detalhismo, faltou contextualizar, faltou convencer as pessoas de que eu realmente conseguiria fazer isso.

- Relacionamento interpessoal fraco - eu sou a pessoa mais tosca do mundo em cultivar amizades, ser carismático e puxar assuntos. Ser competente (ainda mais no Brasil), não é o suficiente, é preciso ser legal. Nisso eu estou a zilhões de anos luz do ideal.

Eis os meus comentários sobre esses feedbacks e a relação disso com um MCP ideal:

“Simplificação em excesso” e “falta de praticidade, o popular ‘como vai fazer isso?’” - Concordo plenamente que eu fiz isso e foi um erro, afinal, como diz o Márcio Jappe “nunca subestime a ignorância alheia” (o que significa não um xingamento, mas sim que omitir informações importantes achando que as pessoas entendem sem isso é geralmente um erro). Como disse, concordo com o feedback, porém sinceramente acho muito mais importante para um presidente saber a direção a seguir do que exatamente como fazer em detalhes (afinal, há um time de especialistas em cada área justamente para isso, saber como fazer).

Acredito que isso tenha muito a ver com estilo de liderança. Eu dificilmente seria um líder impositor e que pretende saber tudo sobre tudo. Eu não quero um time de “tarefeirtos”, eu quero um time que me complete e que saiba pensar. Uma vez que a visão aponta pra uma direção, nós decidimos juntos como é a melhor forma de chegar lá. Se a idéia é que o presidente tenha o plano operacional de cada área na cabeça e que saiba tudo sobre todos os subsistemas, realmente então seria um erro me eleger, porque eu não penso que isso seja o principal pra um presidente.

No fim das contas, eu jamais disse que seria “fácil”. “Simples” e “fácil” são coisas bem diferentes. Einstein disse "A Natureza é exatamente simples, se conseguirmos encará-la de modo apropriado", se alguém acha que o pensamento de Einstein é simplório ou fácil, que levante a mão. Eu apenas encaro os problemas de maneira simples: se meu cachorro morrer, é simples, vou enterrá-lo, mas isso de modo algum será fácil emocionamente. É questão de posicionamento, “se não tem solução, está solucionado”.

“Arrogância” e “relacionamento interpessoal fraco” - arrogância tem a ver com eu simplificar demais e também com eu ser muito ruim em fazer conexões com as pessoas. Parece que sou arrogante, mas eu simplesmente evito as pessoas porque não tenho muito o que dizer a elas.

Acho até bem importante o presidente ser bom em lidar com pessoas fora do trabalho e fazer conexões, porém isso eu consigo fazer muito bem com um grupo de pessoas seleto (meu time, por exemplo). O problema é ser amigo de todos 500 delegados ou 1300 membros da AIESEC no Brasil. Mais uma vez, o feedback é verdadeiro, mas não acho que seja esse o ponto crucial de sucesso de um presidente. A bem da verdade, eu preciso que o meu time me ache foda e que o resto ache o meu time foda. Eu quero que os membros do meu time brilhem, eu não preciso estar nos holofotes.

E por que eu acho que seria um bom presidente?

- Eu tinha uma visão - a visão era um pouco diferente do atual, mas na minha óptica da coisa bem condizente com o planejamento de longo prazo e razoável para alcançar as metas de 2008-09, além de dar um passo importante rumo a visão 2010. Talvez os comitês gostariam que eu expressasse essa visão de maneira mais clara, porém fracassei em fazê-lo, principalmente com 2 minutos para fazê-lo entre cada pergunta.

- Foco em resultado e desenvolvimento de pessoas - ir em busca dos resultados incessantemente é uma das minhas características e o resto não importa (até por isso eu sou pragmático e “simplista”), porém em uma organização como a AIESEC não dá pra perder de vista também o desenvolvimento do time. Em última instância, esses seria meus motes: resultado e desenvolvimento.

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Essas são as reflexões apenas alguns dias depois do ocorrido. Com certeza mais virão, minhas idéias podem até mudar radicalmente, quem sabe? Mas por enquanto eu realmente não concordo com a decisão - porém a aceito com o coração aberto, sabendo que o erro maior foi meu do que do processo de eleição ou dos comitês que votaram.

É muito improvável que eu me candidate novamente para esse segundo round. Na verdade agora estou procurando oportunidades fora do país, em outra AIESEC. Quero ser MCVP fora do país.

Como fechamento, apenas me orgulho de ter tentado, de ter sido uma das 3 pessoas com coragem de fazê-lo entre 1300 membros. Em última instância, mesmo fracassando de maneira bem clara, eu posso dizer:

- Eu não me abstive.

3 comentários:

  1. Oie Jota!
    Sou da Aiesec Goiânia...
    com certeza não foi fácil. É muito complicado ser sabatinado e esperar a oportunidade que até entao você estava querendo criar, nas mãos de tantas pessoas.
    Admiro vocês pela coragem de enfrentar, pela coragem de crescer e consequentemente desenvolver tão bem uma estratégia para o ano da aiesec brasil 2008-2009.
    Achei muito interessante suas contrapartidas do feedback..
    E fico feliz de você ter tirado os lados positivos..

    Beijoss

    parabéns novamente pela coragem...

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  2. Quem tem um blog tão reflexivo e claro como o teu não precisa de terapia. Sério.

    Parabéns.
    Eu me orgulho de ti.

    Bjoca!
    :)

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