domingo, 9 de setembro de 2007

Seu sonho é reter talentos? Faça-os sonhar então

Eu comecei esse post para escrever sobre um artigo que vi no ChangeThis, o artigo intitula-se The Turnover Dilemma: A Question to Keep Employees by Matthew Kelly (recomendo que você leia se entende inglês). São 10 páginas com letras BEM grandes onde basicamente o autor fala do quanto é necessário reter talentos (principalmente do ponto de vista financeiro da organização) e como fazer isso nas organizações basicamente linkando aspirações pessoais de cada funcionário com seu trabalho.

Eis um pequeno quote do artigo:

If you look at the employees of almost any company today you see people from one extreme to the other in terms of engagement: from the highly engaged to those who have quit but refuse to leave. So, what is the difference between these employees? Is it their work? No. There are janitors who are more engaged than some nurses. The nature of the work does not produce engagement in and of itself. Is it the pay scale? No. There is no amount of compensation that can guarantee engagement. Is it the employees level of intellect? No, in fact, some of the smartest people are the most disengaged from their work. So, what is the difference? Highly engaged employees tend to have a vision that they are working toward.


Ainda que eu concorde desde o princípio de que é essencial linkar aspirações pessoais com objetivos organizacionais para reter talentos, eu a princípio discordei que outros elementos, como o enriquecimento do trabalho em si e liderança não eram essenciais. Mas isso também me levou a um dilema que eu sempre tive: ok, é possível enriquecer certos cargos, fomentar trabalho em time, essa coisa toda, mas como fazer para engajar alguém com um trabalho como faxineiro, jardineiro, pedreiro, técnico em computador?

Aí lembrei da minha própria história, quando eu “suportei” um trabalho que não gostava porque sabia que ele me ajudaria a chegar no meu sonho:

Em 2001, estava no primeiro semestre da faculdade de publicidade e propaganda, mas trabalhava com montagem e conserto de microcomputadores (já que no segundo grau eu tinha feito o curso técnico de processamento de dados). Eu não tinha nenhuma experiência na área e tinha plena certeza que seria isso que me faria ser um publicitário - não a faculdade. Graças a uma incrível e inesperada ação de networking, consegui uma entrevista em uma grande agência em Porto Alegre, a já falecida Upper. Acabei sendo contratado, não como publicitário, mas como assistente do técnico de manutenção dos computadores.

Porém, a coisa era óbvia pra mim: estar dentro da agência de publicidade era metade do caminho para ser publicitário.

No primeiro mês eu fazia uma espécie de jornada dupla, arrumava os computadores e fazia as tarefas de manutenção necessárias (algo que não ocupava as 8 horas do meu dia) e no resto do tempo passava andando pra lá e pra cá na agência, entendendo como era o processo de trabalho, conhecendo o que cada área fazia, enfim, vendo o que era ser um publicitário na prática. O trabalho era bem idiota, mas eu tinha um sonho: ser publicitário. E eu sabia que aquilo por mais idiota que fosse o trabalho, aquilo ali me ajudaria a chegar ao meu sonho.

Já no fim do primeiro mês, um dos arte-finalistas, o Franco, estava saindo para uma outra agência onde ele seria diretor de arte - a evolução padrão de quem é arte-finalista e o sonho dele. Era um trabalho técnico, mas achei que seria uma ótima porta de entrada. Sempre fui muito rápido em aprender as coisas, era bom com computadores, já entendia um pouco de macintosh por conta do meu trabalho em manutenção dentro da agência e o Franco era um sujeito legal. Reconheci a oportunidade, sentei do lado dele e disse “ok, sei que tu está saindo e não quer mais fazer isso, façamos um trato, tu me ensina como fazer e eu faço teu trabalho”.

Virei arte-finalista.

Havia me livrado de uma vez por todas da assistência técnica em informática, mas não era ainda o que eu queria. Eu queria na verdade ser da criação, porque arte final era um trabalho bem técnico dentro da publicidade. Consistia basicamente em pegar o que a criação fazia e tornar aquilo viável para impressão. Porém, ser arte finalista me dava domínio dos programas usados pelos diretores de arte - ser arte-finalista era mais um passo para meu sonho, então agüentei o tranco.

Peguei o ritmo de agência, porém o trabalho de arte-finalista não me agradava muito. E o agravante era que eu estava descobrindo que eu queria sim ser da criação, mas não queria ser diretor de arte (a evolução natural do meu cargo), mas sim redator. O Word me parecia bem mais atraente do que o mouse. Então passei a me achegar mais dos redatores para ver como conseguir chegar lá. Não se passaram 2 meses e o Henrique, um dos donos da agência e também redator na criação, estava fazendo um brainstorm de alguns títulos comigo. De repente ele se levantou pra ir pegar um café ou atender o telefone, sei lá, e eu me sentei na cadeira dele e comecei a escrever alguns títulos. Quando ele voltou ficou impressionado com o que eu tinha feito. Aprovamos um dos títulos que eu tinha feito.

Voltei a minha jornada dupla a partir daí: passamos a criar diversas peças juntos. Eu atuava como diretor de arte pra ele, mesmo que não fosse o que eu gostava, era bem melhor que ser arte-finalista (que eu continuava sendo). Tinha esperança de que poderia passar para a redação desta forma - e como ainda estava recebendo como estagiário da técnica da informática, decidi pedir um aumento. Fui negado sem grande cerimônia de que eu receberia um aumento quando passasse em definitivo pra criação.

Porém, depois de uns 6 meses nessa, vi pessoas entrarem e saírem da criação e a chance não me era dada. Comecei a perceber o óbvio: eles não queriam perder um arte-finalista barato e eu não tinha chances de ser redator ali. Frustrei-me, mas decidi agir: comecei a criar meu próprio portfolio, fazendo a arte e os textos, mas para procurar outro emprego, desta vez como redator.

Em uns 3 meses consegui o emprego em uma agência de marketing interno, a Happy House. Finalmente eu seria redator. Informei para o pessoal do financeiro que ia sair, os mesmos que haviam me negado o aumento, e imediatamente eles se ofereceram para dobrar meu salário.

Foi ótimo dizer “não” para eles.

O dinheiro realmente não me interessava naquele momento. O salário no meu novo emprego seria exatamente igual à miséria que eu recebia como arte-finalista, mas ao menos eu estava chegando onde queria, ao meu sonho.

Na Happy House fiquei um pouco mais de um mês, mas logo percebi que criar para marketing interno não era o que eu queria, era muito limitado, eu queria que meu trabalho fosse para o público em geral. E aí fui chamado para ser redator em um estúdio de design, chamado Código Design. Mais uma vez mudei de emprego. O salário era um pouco melhor, mas realmente não muito, só mudei porque, mais uma vez, isso estava conectado com meu sonho de ser publicitário.


Acho que isso é prova suficiente de que, realmente, o mais importante é conectar o que cada funcionário quer da sua vida com o trabalho que ele realiza. O resto ajuda muito, como por exemplo um bom líder, mas nenhum líder pode motivar alguém que absolutamente não tem conexão com o trabalho que desempenha. O líder pode ajudar a pessoa a fazer essa conexão, mas não criá-la. Lembro-me de uma frase que exemplifica bem isso:

“Podemos levar o cavalo até água, mas é impossível obrigá-lo a bebê-la.”

Hoje eu não quero mais ser publicitário, meu sonho é trabalhar com desenvolvimento de potencial humano - coisa que descobri como vocação na AIESEC, onde ainda desempenho esse tipo de tarefa. Trabalho de graça (inclusive muito mais do que pra minha própria empresa), só porque sei que isso vai me ajudar a alcançar meu sonho no futuro.

O poder do sonho, o poder da visão, é realmente impressionante. Lembro-me de outra frase: “quem tem ‘por quê’, agüenta qualquer ‘como’”.

Uma última pergunta: você sabe quais são os seus sonhos?

- Leia também: "Se um homem não sabe a que porto se dirige, nenhum vento lhe será favorável." - Sêneca
- Leia também: War for Talent (pesquisa da McKinsey)
- Leia também: The Turnover Dilemma: A Question to Keep Employees by Matthew Kelly

Pesquise preços: War for Talent
Pesquise preços: talentos

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Observação: somente um membro deste blog pode postar um comentário.